Mas, qualquer que escandalizar um destes
pequeninos, que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao
pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do
mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos,
mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! (Mt 18.6,7)
O
termo escândalo vem do lat. sacandàlum,i "pedra de escândalo,
obstáculo, ocasião de queda, laço, armadilha", do gr.ecl. skándalon, ou
"pedra, obstáculo que faz tropeçar, tombar; escândalo." O que é
escândalo? Segundo o dicionário Houaiss, o termo pode ter os seguintes
significados:
1. fato ou acontecimento que contraria e ofende sentimentos, crenças ou convenções morais, sociais ou religiosas estabelecidas
2. indignação, perplexidade ou sentimento de revolta provocados por ato que viola convenções morais e regras de decoro
3. aquilo que pode levar a erro, a mau procedimento ou a pecado
4. ato que envolve desordem, tumulto, quebra de uma ordem estabelecida
5. fato revoltante, inaceitável pela consciência civilizada
É
interessante notar que a palavra skándalon, derivada skandaléthron,
significa “a vareta com isca na armadilha”. O skandaléthron era o braço
ou a vareta em que a isca era fixada. O animal para o qual a armadilha
era armada era levado pela isca a tocar ou pisar na vareta; a vareta
acionava uma mola, e assim o animal era conduzido à sua captura ou
destruição.
Escândalo pode ser entendido, desse modo, como a
ação cometida por alguém que conduz ao erro, mau procedimento ou pecado
por parte de outras pessoas. O escândalo seria uma espécie de indução ao
erro noutrem por uma má atitude pessoal, atitude essa que contraria uma
determinado código de conduta ou convenção. Quando se refere a fé
cristã, o escândalo pode ser definido como a ação, por parte de um
crente ou líder cristão, que é radicalmente contrária aos princípios
basilares dessa fé, nomeadamente, contra o que ensina a Bíblia Sagrada. O
problema reside no fato do antagonismo total entre profissão de fé e
prática de fé, ou seja, o sujeito age de forma totalmente oposta àquilo
que ele defende como sendo verdadeiro, tanto para sua vida pessoal
quanto para outras pessoas. Essa pessoa, que comete escândalo, recebe o
adjetivo "escandalosa", ou seja, "aquele que comente escândalo, ou em
quem há escândalo; que conduz ao erro, ao pecado; que serve de mau
exemplo".
A pessoa que contempla ou toma conhecimento de um
escândalo vê-se, se não tiver a devida cautela, apanhada numa armadilha
espiritual, armada por quem comete o escândalo. Por isso, em Mateus 18,
Nosso Senhor condenou com muita severidade os escândalos e,
consequentemente, aqueles que cometem escândalo. Ele disse que seria
melhor, para quem comete o escândalo, "que se lhe pendurasse ao pescoço
uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar". Mó de azenha é
a pedra utilizada num moinho movido a água. Era uma pedra grande e
dura, circular, de altura pequena, com que se trituram os grãos nos
moinhos, girando-a sobre outra pedra, ou se espreme a azeitona no lagar
para extrair o azeite. Os moinhos faziam uso dessas pedras para triturar
o trigo, produzindo farinha, bem como outros vegetais. Perceba que
segundo o Mestre de Nazaré, entre duas péssimas opções - o escândalo e a
morte por afogamento nas profundezas do mar - a segunda opção seria
melhor. A conclusão lógica é que quem produz escândalos há de sofrer
terrivelmente no Dia do Juízo por conta disso. Por quê? É simples:
porque essa pessoa, por quem o escândalo vem, pode fazer perder a fé de
até mesmo uma simples criança em Cristo Jesus ("um destes
pequeninos").
Escândalos causam deboches e blasfêmias. Diz Paulo, o apóstolo: "Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós" (Rm 2.24). Uma simples análise do contexto revela o porquê do nome de Deus ser blasfemado: "Eis
que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em
Deus; E sabes a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo
instruído por lei; E confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em
trevas, Instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da
ciência e da verdade na lei; Tu, pois, que ensinas a outro, não te
ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Tu,
que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os
ídolos, cometes sacrilégio? Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus
pela transgressão da lei?" (Rm 2.17-23) Que atitudes
causam essas blasfêmias? É simples: os escândalos, aqui embasados e
exemplificados de forma claríssima por Paulo. Dá até para ouvir o santo
apóstolo falando nos dias de hoje:
"Você,
que tem por sobrenome o nome de Cristo, que repousas na Bíblia e que te
glorias em Deus; e sabes e aprovas a vontade de Deus, sendo instruído
pela Palavra de Deus; e confias que és guia dos cegos, luz do mundo,
Instrutor dos néscios, mestre de novos-convertidos, que tem a forma do
conhecimento e da Palavra: Tu, pois, que ensinas a outro, NÃO TE ENSINAS
A TI MESMO? Tu, que pregas que não se deve fornicar, fornicas? Tu, que
dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que dizes que não se
deve roubar, roubas? Tu, que dizes que o diabo é inimigo, associa-te com
ele? Tu, que dizes que os estupradores, assassinos, adúlteros,
sodomitas, traficantes de drogas, violentos, idólatras, picaretas e
meliantes vão para o inferno se não se converterem, torna-te coomo eles,
errando nas mesmas coisas? Tu, que te glorias na Bíblia, desonras a
Deus pela transgressão da Bíblia?"
Segundo ainda o
apóstolo São Paulo, quem age desse modo, INDEPENDENTE DE QUEM QUER QUE
SEJA, é indesculpável, porque ele condenas a si mesmo naquilo em que ele
julga a outro; pois ele, que julgas, faz o mesmo (Rm 2.1). Para os que
assim se comportam, o juízo de Deus é segundo a verdade. Paulo pergunta:
"E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus?"
(v.3). Ou seja, quem assim age - fala uma coisa e faz outra - não deve
pensar que escapará do juízo de Deus por apenas conhecer o certo ou por
julgar ser isso-ou-aquilo, visto que o conhecimento da Vontade de Deus
acerca de tais coisas não veio acompanhado da prática dessa Verdade.
Quem assim age, deve aguardar as consequências, pois "segundo
a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia
da ira e da manifestação do juízo de Deus, o qual recompensará cada um
segundo as suas obras; a saber: A vida eterna aos que, com perseverança
em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; mas a indignação e a
ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à
iniqüidade" (vv.4-9). Para com Deus, não há acepção de
pessoas: independente de estar em igrejas ou em púlpitos, ou em qualquer
outro lugar; independente de classe social, nível educacional, título
social ou eclesiástico, ou não ter nada disso, o juízo de Deus há de
alcançar o homem ou mulher que assim age.
O Senhor Jesus disse
que é mister, ou seja, é necessário, é inevitável que venham os
escândalos. Ou seja, independente do que se faça para impedi-los, eles
surgirão. Contra isso, não adiantam usos e costumes, não adiantam
medidas coercitivas e moralizadoras. Com a proximidade do fim, mais e
mais escândalos hão de surgir, tendo-se em vista que mais e mais o homem
abandona Deus e mergulha de cabeça na fossa poluída do pecado. Cada vez
mais a humanidade chafurda-se no lamaçal do pecado, entregando-se nas
mãos do porqueiro de almas. O inferno é cada vez mais visível em suas
manifestações violentas e imorais no meio da raça humana. E, portanto, o
pecado domina cada vez mais e mais o homem, tornando-o um filho do
diabo por identificação com o caráter de seu pai. Os governos cada vez
mais aprovarão leis imorais, legalizando o ilegal e imoral e
criminalizando o que é moral. E do seio daqueles que deveriam ser o sal
da terra e a luz do mundo - a Igreja - surgirão cada vez mais
escandalosos com seus escândalos. Por quê? Por várias razões, como
promiscuidade nas relações entre a Igreja e o mundo, gerada pelo falso
ensino do dominionismo cristão; pela sedução do mundo, com seus prazeres
pecaminosos imediatos, ensinados como corretos e desejáveis pelos
teólogos e mestres da bufunfa (teologia da falsa prosperidade),
enfatizando o material em detrimento do espiritual e do secular em
detrimento do eterno; do falso ensino sobre o que é sucesso pastoral -
grandes igrejas, grandes negócios -, vulgarizando e inferiorizando a
mensagem do Evangelho para não ferir suscetibilidades dos contribuintes;
da consequente minimização de critérios para aceitação de pessoas como
membros de Igrejas e como ministros evangélicos; dentre muitas outras. A
lista é interminável.
Assim, o problema dos escândalos não
está na Bíblia. Não é ela a causa dos tropeços. Tampouco o problema é a
existência da Igreja. Há em tudo o que existe o verdadeiro, que é uno e o
falso, que é múltiplo: há o verdadeiro pastor e os falsos pastores, há o
verdadeiro Cristo e os falsos cristos, há a verdadeira Igreja e as
falsas igrejas. No mundo também é assim: há, por exemplo, o verdadeiro
médico e os falsos médicos, que se intitulam médicos sem terem sido
diplomados para tal. Porém, é sempre possível analisarmos as atitudes
de uma pessoa e a partir dessas atitudes escolhermos a nossa forma de
agir. Nosso Senhor nos ensina: "Acautelai-vos,
porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas,
interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis.
Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? assim,
toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos
maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos
bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo.
Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade
de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor,
Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos
demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes
direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que
praticais a iniqüidade." (Mt 7.15-23)
Falsos profetas - geradores de inúmeros escândalos - são reconhecidos por suas atitudes, INDEPENDENTEMENTE DE SUA PERFORMANCE ESPIRITUAL (profecia, expulsão de demônios, curas divinas, maravilhas, etc). O que precisa ser analisado é sempre o CARÁTER do sujeito, não seus supostos dons, poder, realizações e títulos!
Cada
vez mais e mais pessoas são pegas na armadilha dos escândalos. Cresce o
número de perdidos ao passo que aumentam as barreiras para conversão de
pecadores. Hoje, cada crente verdadeiro corre grande perigo de que,
caso venha a se desviar, nunca mais encontre o caminho de retorno a fé
cristã. O mundo está cada vez mais acelerado, o diabo cada vez mais
diabólico e homem cada vez mais endiabrado. Temo a dizer que talvez
nunca, em toda a história, o laço do passarinheiro revelou-se tão eficaz
quanto nos nossos dias! O escândalo faz cada vez mais seus
prisioneiros, trazendo censura ao genuíno ministério cristão na face da
Terra (II Co 6.3) por aqueles que acabam julgando tudo e todos pela
atitude de alguns.
Graça a Deus, existem ainda pessoas sérias em sua fé. Tratam-se de
pessoas comprometidas com Deus e não com o sistema que aí está, que
gemem e choram diante de Deus por suas vidas e pelas vidas de outras
pessoas, todo o dia. Gente que não tem rabo preso com o diabo e por isso
mesmo não tem o que esconder ou temer; antes são temidas no inferno
pelo diabo e por suas hostes. Aqueles que se achegam a Deus com
sinceridade de propósito e humildade acabam por encontrá-Lo; sim, aquele
que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente tem
descansado sua alma no Seu Senhor e Deus, no seu refúgio, a sua
fortaleza (Sl 91.1-3). Aquele que Nele - e somente Nele - confia tem a
sua alma livrada do laço do passarinheiro. O Senhor quebra o laço do
inimigo, e nós escapamos (Sl 124.7).
Nossos olhos precisam urgentemente estar firmes em Cristo, o Autor e
Consumador da nossa fé, e não em homens ou no pecado que tenazmente nos
assedia (Hb 12.1,2). Nosso Senhor está voltando e quando Ele chegar, não
haverá tempo para mais nada. O que tiver sido feito, feito estará, sem
chance de conserto ou reparação de última hora! Atenção com a pedra no
Caminho! Atenção com falsos profetas, com falsos pastores e líderes e
com falsas ovelhas!
Diz assim o antigo hino "Olhai Para O Cordeiro de Deus" (HC 20):
Livres de pecado vós quereis ficar?
Olhai p'ra o Cordeiro de Deus!
Ele morto foi na cruz, p'ra vos salvar;
Olhai p'ra o Cordeiro de Deus!
Olhai p'ra o Cordeiro de Deus,
Olhai p'ra o cordeiro de Deus,
Porque só Ele vos pode salvar.
Olhal p'ra o Cordeiro de Deus!
Se estais tentados, em hesitação,
Olhai p'ra o Cordeiro de Deus!
Ele encherá o vosso coração.
Olhai p'ra o Cordeiro de Deus!
Se estais cansados e sem mais vigor,
Olhai pra o Cordeiro de Deus!
Ele vos quer dar Seu divina! amor, Olhai p'ra o Cordeiro de Deus!
Se na vossa senda sombras vêm cair,
Olhai pra o Cordeiro de Deus!
Ele, com Sua graça, tudo quer suprir.
Olhai p'ra o Cordeiro de Deus!
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