Se
alguém pretender destruir a sociedade, como deve proceder?
Multiplicam-se essas acusações e os réus são múltiplos, do Governo aos
bancos, do euro aos corruptos. Tomemos então a sério tais denúncias. Se
se quiser mesmo a aniquilação de Portugal, qual a forma mais eficiente
de o conseguir?
Curiosamente
as dificuldades recentes provam o oposto do que muitos alegam: o tecido
social de um povo é sempre muito resistente, o que torna a sua
destruição extremamente difícil. Uma crise económica, por grave que
seja, nunca gera efeitos duradouros numa nação, quanto mais definitivos.
Mesmo que a dose fosse muito maior, como na Grécia ou em Chipre, ao fim
de uns anos tudo normaliza. Até o caso extremo da "grande depressão"
dos anos 1930 não chegou para destruir os EUA, que aliás pouco depois
dominavam o mundo.
Se
o nosso inimigo radical passasse para métodos políticos ou militares,
não teria melhor sorte. A França de 1792 ou a Alemanha de 1945 são casos
extremos de pressão revolucionária ou demolição bélica. Mas nem essas
gerações se perderam, quando mais a respectiva cultura e nação. A única
conclusão razoável é que a sociedade é uma das realidades mais
resistentes do universo. As contínuas referências a demolição nacional
não passam, portanto, de exageros vácuos. Sabemos bem como as
dificuldades levam muitos a carregar no acelerador retórico, disparando a
grande velocidade para a asneira. Mas, apesar do que dizem, é muito
difícil destruir Portugal.
Quer
isto dizer que um malévolo não teria forma de conseguir os seus
perversos intentos? Não. Há uma maneira, e é simples. Para matar um
homem cortando-lhe os braços, é precisa uma espada; para o atingir no
coração, basta uma agulha. A maneira mais eficiente de dar cabo de um
povo é ferir o seu núcleo mais central. E é isso exactamente que nos
está a acontecer.
Não
existe nenhuma conversa sobre a família em que não se oiça que ela é a
célula base da sociedade. Que poderemos então concluir da sua dramática
crise contemporânea, senão que ela põe em risco a sobrevivência
nacional? A única dedução possível é que está bastante adiantada uma
degradação de todo o tecido cultural, de onde só recuperaremos com muita
dificuldade. Um povo com dúvidas sobre o sentido de "cidadão" sofreria
graves consequências. Que dizer de um que degrade o conceito de
casamento?
A
queda demográfica chega, só por si, para justificar enorme preocupação.
Sem filhos não há futuro e a inversão da pirâmide etária cria vastas
consequências. Como pretender crescimento económico numa população em
regressão? Mesmo assumindo que a tacanhez actual só liga a questões
económicas, fiscais e políticas, já teria aí muito com que se entreter.
A
isto juntam-se as brutais consequências humanas, psicológicas,
educativas, culturais e sociais que nascem de famílias em desagregação.
Conflitualidade conjugal, explosão de divórcios, desequilíbrio
emocional, precarização de relações, penetração do egoísmo, são sintomas
evidentes e ameaçadores. O resultado é solidão, desespero ou
embriaguez.
Tudo
nasce de uma ideologia lasciva que impõe o postulado de que no sexo
todos os prazeres são equivalentes e devem ser excitados. Esta mentira
evidente e clamorosa consegue passar por razoável na propaganda
libertina. O tempo que teme tabaco e obesidade promove divórcio, aborto,
promiscuidade e depravação.
O
que mais espanta é a apatia generalizada da população perante a
podridão, enquanto se enfurece e assusta com questões económicas,
secundárias e passageiras. As elites de poder, do CDS, PSD e PS,
aplaudidas por PCP e BE, são parte activa do problema, não da solução.
As leis recentes sobre o tema envergonhar-nos-ão durante séculos.
Portugal
está doente, muito doente. Não pelo défice e dívida, nem sequer pelo
desemprego e recessão. Tudo isso resolve-se em anos. A verdadeira doença
que, mesmo não fatal, deixará mazelas por gerações, é a
incompreensível, boçal e brutal dissolução familiar. Assim este período
ficará marcado na nossa história. Se houver história.
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