domingo, 4 de julho de 2010

DESQUALIFICADOS

Perigo de Desqualificação

Embora este artigo tinha sido escrito a pensar nos homens e mulheres em liderança, os princípios e os avisos nele contidos podem perfeitamente ser aplicados a cada um de nós como membros do Corpo de Cristo

Ser desqualificado deve ser uma experiência muito desagradável e penalizante. Que o diga Ben Johnson, velocista canadiano que participou nos Jogos Olímpicos de Seul na prova dos 100 metros. Este era um daqueles atletas de eleição, considerado por muitos como um sério candidato à medalha de ouro nessa distância. De facto, ele acabaria por vencer a prova com um tempo fabuloso que o tornou no homem mais rápido do mundo. Porém, viria depois a ser desqualificado. Os testes anti-doping entretanto realizados tinham acusado uma substância proibida que lhe custou a perda da medalha e a consequente suspensão da prática desportiva por algum tempo. Uma desilusão! Um atleta promissor com uma carreira brilhante pela frente, de quem muito se esperava, vê-se deste modo privado de alcançar um êxito na sua vida, tudo por causa de uma substância que tomara para melhorar a sua performance. No desporto, como em qualquer outra área da vida, e também no ministério é possível ser-se desqualificado, comprometendo assim todo um futuro brilhante e promissor que se perspectiva. Esta é uma história real com um fim desagradável. Uma lição que precisamos aprender de modo a evitar fazer parte da longa lista dos desqualificados.

Avaliando as Qualificações
Há um determinado número de qualificações que todo o obreiro/líder deve ter sempre presente e em constante avaliação. Paulo menciona algumas delas em 1 Timóteo 3:1-7 e Tito 1:5-9. Estas e outras podem ser organizadas em quatro áreas principais: Social, Espiritual, Física, Mental/Emocional. São listas que deveríamos consultar regularmente, evitando assim perigos/armadilhas que ameaçam a vida de qualquer líder cristão. Será muito útil também atentarmos para o exemplo do Apóstolo Paulo em 1 Coríntios 9:27, cujo receio de ser “reprovado” (desqualificado) o levava a “subjugar” e “reduzir à servidão” o seu corpo. Ou seja, Paulo temia que pregando aos outros e não vivendo de acordo com os mais elevados padrões requeridos a um líder espiritual, viesse também a fracassar. Há quem refira a Imoralidade, o Amor ao Dinheiro e ao Poder como as três armadilhas principais que podem propiciar a queda do líder cristão. Outras se lhes poderiam acrescentar. Neste artigo vamos reflectir sobre três atitudes que podem desqualificar o obreiro.

Orgulho
O orgulho é uma das causas principais na queda dos líderes. É terrivelmente perigoso pela forma subtil como pode crescer e desenvolver-se na nossa vida. Mas o que significa o orgulho e como se manifesta? Bob Gordon define-o, em termos cristãos, “como” a incapacidade de lidar com a popularidade, o sucesso, posição ou dons com que Deus nos tem enriquecido (1 Cor. 4:7; II Cor. 10: 12,13). (1) Henry e Richard Blackaby, no seu excelente livro “Spiritual Leadership”, afirmam que “o orgulho é perigoso para os líderes porque se pode tornar subversivo na forma como se move vagarosa e silenciosamente nas suas vidas”. Chamam a nossa atenção para algumas variantes da sua manifestação, a saber: “tentando os líderes a tomar o crédito dos outros; tornando os líderes não ensináveis; levando-os a pensar que são auto-suficientes; conduzindo-os à perda de compaixão; fazendo-os vulneráveis”.(2) A armadilha do orgulho pode ser evitada se atentarmos para a sua sintomatologia. Há certos indicadores que nos podem avisar da sua proximidade ou existência, tais como “pensar que se é mais importante do que os outros por estar num nível superior de responsabilidade”, “ter especial apetência para ser servido ao invés de servir”, “considerar-se melhor do que os outros”. Deus rejeita claramente o orgulho, porque “abominável é ao Senhor todo o arrogante de coração” (Pv.16:5), uma ideia partilhada também pelo apóstolo Pedro (1 Pd. 5:5) que aconselha os seus leitores a revestirem-se de humildade como o caminho para serem vitoriosos.

Imoralidade
Uma das formas mais insidiosas de Satanás sujar e desonrar os líderes cristãos é levá-los a cometer pecado sexual, habilmente explorado pelos media através de histórias recentes de líderes que sucumbiram à tentação sexual. Este é um tipo de pecado cuja força é suficiente para destruir/devastar toda uma carreira/ministério, família e reputação, ao profanar o templo do Espírito Santo, ou seja, o seu próprio corpo, segundo S.Paulo (1 Coríntios 6:1 5-1 9). O apóstolo está a falar de uma forma geral, advertindo os crentes em Corinto sobre aquilo que pode induzir à imoralidade sexual (v.18), uma advertência que, no entanto, deve ser observada por todo aquele que está em liderança e que foi chamado para o serviço cristão. A única forma de escapar às consequências venenosas da imoralidade sexual é seguir o conselho que Paulo deu e que se resume numa palavra: fugir, perfeitamente ilustrado na atitude que José tomou quando foi tentado pela mulher de Potifar Gén. 39:1 2). Diz que fugiu, “saiu para fora de casa”, afastou-se da tentação e de uma forte possibilidade de pecar. Na opinião de Henry e Richard Blackaby, “os líderes podem evitar esta cilada construindo algumas protecções”, a saber, tornando-se responsáveis, considerando as consequências, desenvolvendo hábitos saudáveis, orando e pedindo a outros para orar por eles” (3).

Crítica
Ficar imune à crítica seria pedir ou esperar o impossível, pois nenhum líder está isento dela, até mesmo as “pessoas de bem” são alvo de críticas. Veja-se, por exemplo, o caso de Jesus que, agindo sempre com a motivação certa, foi criticado (Mat. 11:19; 9:11). A questão, então, é saber como lidar com a crítica, partindo do princípio que é uma parte da vida do líder, podendo chegar até ele pelos mais variados motivos ou situações. Por exemplo, pode suceder quando sugere ou efectua mudanças para as quais as pessoas não estão preparadas, ou acham que não são necessárias, ou mesmo que não são prioritárias, ou que consideram ainda susceptíveis de causar algum receio pelas consequências que daí possam advir. Esteja receptivo para receber críticas, procurando compreender a diferença entre crítica construtiva e destrutiva. Se necessário, admita que estava errado nalguma situação em que foi criticado. Não rejeite por completo a crítica, procurando tirar daí ilações. Pense: “Está a ajudar-me?” A crítica construtiva é benéfica para os líderes. Qualquer que seja a origem da crítica, o importante é não reagir com amargura ou ressentimento, particularmente quando esta toca alguma área mais delicada ou de fragilidade pessoal.

Outras Causas
Cobiça/avidez, preguiça mental, letargia espiritual, negligência doméstica, falta de rigor administrativo, tentativa de prolongar o domínio/posição, cinismo, inveja, sensação de infalibilidade e indispensabilidade, competição, são outras áreas de falha. Ficam aqui referidas como sinais de alerta e motivo sério de estudo e de reflexão.

Conclusão
Gostaria de concluir citando de novo Henry e Richard Blackaby, que a propósito do capítulo “The Ten Pitfalls of Leadership” nomesmo livro, escrevem: “Desenvolver uma saudável consciência das armadilhas/ciladas que podem trazer falha e desgraça aos líderes é o primeiro passo para as vencer”. O segundo passo é “colocar guardas de modo a providenciar protecção em tempos de tentação e indecisão” (4). Um conselho simples e possível de observar, se de facto for essa a nossa vontade.

Artigo escrito por: Abel Tomé. É graduado em Teologia e Educação Cristã pelo Instituto Bíblico de Portugal, Fanhões. Foi Missionário em Macau e em Moçambique durante 9 anos. Actualmente dirige a PubliÁfrica, um ministério de apoio às igrejas nos PALOP, sendo ainda o editor da revista Mulher Criativa.

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