PERDÃO PARA ALÉM DA LÓGICA
"A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor..." (Rm 13.8)
As relações humanas são um grande desafio. Há pessoas mais fáceis de
amar do que outras, pelos laços que nos unem ou por aquilo que
consideramos certo e errado na sua actuação. Provavelmente um dos
inimigos mais comuns do desenvolvimento do amor é a falta de perdão. É
que perdoar exige disposição, paciência, determinação e aceitação do
outro tal como é.
Lucas relata-nos um episódio que demonstrou o exercício do perdão como
elemento chave para manter e suster qualquer relacionamento. O texto
enfatiza uma mulher pecadora, de conduta imoral, conhecida de todos e um
fariseu vestido de justiça própria, leal cumpridor da sua religião.
Aí se destacam duas grandes realidades. O pecado da mulher e a graça de
Deus. O fariseu não tinha capacidade nem disposição para perdoar e o
pecado que se desfez perante a graça de Jesus. A fim de o fazer
reflectir sobre o que acabara de ver, Jesus propôs-lhe o caso do credor
que ilibou igualmente devedores de diferentes valores. Qual deles o
amará mais? A resposta foi lógica - "Aquele a quem mais perdoou". A
pergunta ainda é a mesma. Será que também nós encontraremos uma resposta
lógica? A lógica não alcança a dimensão do perdão.
Jesus não pretendia contabilizar pecados mas antes mostrar a profunda
revelação que esta mulher adquirira do perdão de Deus. Essa é uma obra
do Espírito Santo que "converte do pecado, da justiça e do juízo" e
"Aquele que começou em nós a boa obra, a aperfeiçoará...". Uma obra que
pode passar despercebida a toda a mentalidade carnal.
Foi o que aconteceu em duas situações com Pedro. Quando Jesus revelou
que o seu destino era a cruz, ele opôs-se dizendo: "Senhor, não te faças
tal coisa!" Pensamento lógico, a que Jesus respondeu: "Para trás de mim
satanás, que não conheces os desígnios de Deus...". De outra vez,
confrontado com o significado espiritual do perdão, questiona Jesus
quanto aos limites da vontade de perdoar. Até sete? Pedro usa a lógica,
Jesus responde com a revelação do amor incondicional... perdão sem
limites.
A resposta de Jesus à mulher não consistiu apenas em livrá-la da
vergonha do seu comportamento imoral mas em revelar-lhe amor que perdoa,
renova e causa uma nova vida. A falha em compreender a dimensão do
perdão de Deus para connosco, limita a nossa capacidade de perdoar os
outros, e consequentemente o amor que nos identifica como discípulos de
Jesus. Não permita que a lógica limite o seu perdão.
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