quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Bodes e Ovelhas

“Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, assentar-se-á em seu trono na glória celestial. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes.” (Mateus 25.31-32)
Jesus veio e nos trouxe o Reino de Deus. João diz em seu evangelho que Ele veio a nós cheio de graça e de verdade (Jo 1.14). Pela graça somos aceites por Deus como somos. Com nossas limitações, imperfeições, vícios, enfim, com nossos pecados. Somos amados e aceites como estamos. Ele nos perdoa e recebe como filhos amados e constrói uma comunhão verdadeira connosco. Ele nos faz seus amigos. Mas também há a verdade que Jesus nos trouxe. A verdade nos confronta, expõe nossos enganos e hipocrisias. Desafia-nos a mudar, a abandonar atitudes e costumes contrários ao Reino de Deus. Desafia-nos a obedecer, a nos submetermos a Deus.
São dois aspectos complementares: somos aceites sem mudanças e somos desafiados a realizar mudanças. E se de fato nos entregamos para ser aceites, nós mesmos concordaremos com as mudanças que precisamos, embora nos sintamos presos e até gostemos de atitudes e costumes que precisem ser mudadas. Acabamos compreendendo que essas mudanças representam melhorias em nossa vida, um aperfeiçoamento de quem somos. Algumas se estabelecerão e outras serão continuamente um campo de luta para nós. Mas o fato é que a graça e a verdade estarão actuando em nossas vidas, levando-nos à paz de pertencer a Deus e à luta para viver uma nova vida.
Que cristianismo é nosso? A graça e a verdade estão actuando em nossa vida? Cada um de nós só pode responder por si mesmo e somente Deus conhece o coração de todos. Sempre corremos o risco de errar ao tentar julgar o outro. Por enquanto todos somos beneficiados pelo foro íntimo e pelo “in dubio pro reo”. Todos podemos dizer “sim, sou um cristão”, sendo ou não. Mas as Escrituras afirmam que um dia Jesus, que nos trouxe a graça e a verdade, julgará cada pessoa. Ele que vê o íntimo e conhece o coração, que não comete enganos, separará “bodes e ovelhas”. Não precisamos nos surpreender e não devemos nos enganar. Podemos escolher agora de que lado queremos estar.

PERDÃO – QUANDO DEVEMOS PERDOAR?

Para os cristãos, o perdão é um tema de base. É algo que sabemos que devemos fazer, mas nem sempre sabemos como o conseguir. Na realidade, quase toda a gente acaba por se deparar com esta necessidade de lidar com situações que, intencionais ou não, deixaram a sua “marca” negativa.

Ao longo desta série de artigos, vou falar de alguns aspectos que considero relevantes e também acerca de algumas noções e passos práticos de “como perdoar”.
 
70 x 7

Jesus disse para perdoarmos ao nosso ofensor não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete. Parece muito, parece um exagero. E temos a tendência para pensar que “não somos assim tão burros” a ponto de permitirmos que continuem a maltratar-nos sem qualquer reação da nossa parte. No entanto, o foco não é não haver reação e muito menos incentivar-nos a permitir ou pactuar. Num dos próximos artigos irei abordar este aspecto da permissividade.
 
Ofensa imperdoável 

É comum eu deparar-me com pessoas que passaram por uma situação tão grave que acreditam que nunca conseguirão perdoar. Mas afinal, perdoar é mesmo isso. Perdoar é aquilo que precisamos de fazer quando o assunto é tão sério que não podemos simplesmente passar por cima ou “deixar para lá”. Se é algo ligeiro e inconsequente, será mais fácil de ultrapassar e não terás que passar pela luta de perdoares… ou continuares a viver com esse fardo destrutivo dentro de ti.
 
É difícil 

Perdoar é difícil. Na realidade, é uma luta de gigantes. E torna-se ainda mais doloroso quando o que te fizeram (ou deviam ter feito e não fizeram) teve consequências, teve um custo (emocional ou outro) que és tu quem tem que suportar. Ou quando é uma situação que se repete — tu lutas; tu pensas que perdoaste; consegues sentir-te menos amargo… e a outra pessoa volta a fazer o mesmo. E a tua ferida volta a abrir, não só por causa desse momento, mas por todas as vezes que essa mesma situação já aconteceu; por tudo o que já investiste dentro de ti para te libertares da dor; por verificares mais uma vez que não conseguiste.
 
Sentimentos de culpa 

Quando sabes que deves perdoar, que esse é o teu papel, surge outro problema — a culpa de continuares a pensar nisso, a sentir a dor, a teres a consciência de que na realidade ainda não perdoaste coisa nenhuma. Essa culpa até poderá fazer sentido. Mas ela não leva a um caminho de saída. A sensação de culpa não direciona para a mudança; pelo contrário, ela agrava o problema.
 
Escravo 

Há dias, um cliente meu estava a dizer que tem perfeita consciência de que o seu ofensor dorme descansado toda a noite, enquanto ele continua às voltas na cama a lutar com as suas insónias.

A falta de perdão é isso mesmo. Continuas escravo daquilo que o outro te fez. Continuas a permitir que a ofensa dele continue a ser eficaz em te destruir. Ou seja, aquilo que te fez tanto mal quando aconteceu, continua a fazer-te o mesmo mal de cada vez que te lembras disso. O teu agressor continua a agredir-te, sem ter que fazer nada para isso.

Talvez estejas a viver uma situação dessas quase a tempo inteiro… talvez uma situação que já dura há anos… ou há décadas.
 
A raiz de amargura rouba a tua capacidade de viver. Podes continuar escravo dessa amargura… ou libertar-te do poder destrutivo daquele que te maltratou.


A escolha é tua!